Imagine um investidor do mercado financeiro, de terno e gravata, em plena reunião de negócios, citando trechos de Firework da Katy Perry para justificar a compra de um fundo multimilionário. Parece cena de comédia? Pois é quase realidade.
O mercado musical, antes visto como território exclusivo de artistas excêntricos e fãs apaixonados, agora é pauta quente nas mesas de negociação do mercado financeiro.
O motivo? Dinheiro. Muito dinheiro.
E ele vem em forma de royalties, IPO’s e streaming. Se você achava que o mercado financeiro só se interessava por petróleo, tecnologia e imóveis, prepare-se para conhecer o novo queridinho de Wall Street: o catálogo musical.
Royalties são os direitos autorais pagos a artistas, compositores e produtores toda vez que uma música é tocada, seja no rádio, no Spotify ou como trilha sonora de um comercial de margarina. E esses centavos acumulados viram milhões. Em 2024, a plataforma digital distribuiu mais de US$ 10 bilhões em royalties o maior pagamento da história da indústria fonográfica.
Artistas como Paulo Ricardo, por exemplo, transformaram suas composições em ativos financeiros. O cantor negociou os direitos de mais de 500 músicas, incluindo Vida Real — sim, aquela do BBB— com uma fintech especializada.
Se você pensava que IPO era coisa de startup, pense de novo. Algumas empresas do setor musical estão abrindo capital na bolsa, permitindo que qualquer pessoa compre ações e se torne, tecnicamente, sócio de uma gravadora ou plataforma de streaming. Isso inclui gigantes como a Universal Music Group, que estreou na bolsa de Amsterdã em 2021 com uma avaliação de mais de US$ 50 bilhões.
E não são só empresas. Há fundos que compram catálogos inteiros de artistas renomados. A gestora Carlyle, por exemplo, adquiriu parte dos direitos de Katy Perry, apostando que suas músicas continuarão rendendo por décadas. É como investir em imóveis, só que em vez de tijolos, você tem refrões chicletes.
No mercado financeiro, o streaming é o motor que impulsiona tudo
O streaming é o combustível dessa engrenagem. Com mais de 500 milhões de assinantes pagantes no mundo, plataformas como Spotify, Apple Music e Deezer transformaram o modo como consumimos música. E, claro, como ela gera receita.
Cada play conta. Literalmente. E com algoritmos cada vez mais precisos, artistas conseguem segmentar públicos, aumentar engajamento e, consequentemente, faturar mais. O streaming também democratizou o acesso: artistas independentes podem viralizar e gerar receita sem precisar de grandes gravadoras.
Esse casamento entre música e o mercado financeiro criou uma nova figura: o fã-investidor. Pessoas que amam um artista agora podem investir em seus catálogos, torcendo não só por sucesso artístico, mas também por retorno nas finanças. É o capitalismo com trilha sonora.
Mas atenção: como todo investimento, há riscos. O sucesso de uma música pode ser volátil, e o gosto do público muda mais rápido que o TOP 10 da Billboard. Por isso, fundos especializados fazem análises profundas, considerando histórico de reprodução, relevância cultural e até memes.
A indústria musical não é mais apenas sobre talento e carisma. É sobre estratégia, dados e, claro, dinheiro. Royalties viraram ativos, artistas viraram marcas e o streaming virou a nova bolsa de valores sonora.
Então, da próxima vez que você ouvir Roar da Katy Perry ou London Calling do The Clash, lembre-se: além de cantar, você pode estar contribuindo para o crescimento de um fundo de investimento. E quem sabe, com um pouco de sorte e bom gosto, seu portfólio financeiro pode ter um refrão de sucesso.

























