O lendário Johnny Cash (1932-2003), mesmo após sua partida, continua sendo protagonista de histórias que cruzam música e negócios.
Desta vez, sua herança entrou com um processo contra a marca de refrigerantes Coca-Cola, alegando que a empresa utilizou um cantor com voz semelhante à do artista em uma campanha publicitária de futebol universitário.
O detalhe curioso é que a ação judicial se apoia na chamada Elvis Act, legislação criada no estado do Tennessee (EUA) em 2024 para proteger músicos contra usos indevidos de suas imagens e vozes, especialmente em tempos de inteligência artificial.
Segundo a acusação, a voz usada no comercial seria de um tributo a Johnny Cash, e não do próprio cantor. Para os representantes da família, trata-se de uma violação da integridade e identidade do artista.
“A voz cantada no anúncio infrator soa notavelmente semelhante à voz de Johnny Cash. A voz cantada no anúncio infrator é facilmente identificável e atribuível a Johnny Cash. Mas a voz cantada no anúncio infrator não é a voz real de Johnny Cash”, diz um trecho do processo, que também alega ainda que o cantor é, na verdade, um importante artista que faz tributo a Cash. “Roubar a voz de um artista é roubo. É roubar sua integridade, identidade e humanidade”.
A lei Elvis Act foi pensada para combater clones digitais gerados por IA, mas acabou se tornando também um instrumento contra imitações sonoras em campanhas publicitárias.
Do ponto de vista financeiro, o caso levanta uma questão importante: até onde marcas globais podem ir para criar impacto em suas campanhas sem ferir direitos de imagem e voz? A Coca-Cola, uma das empresas mais valiosas do mundo, pode enfrentar não apenas custos jurídicos, mas também repercussões de reputação que afetam diretamente seu valor de mercado.
O uso de soundalikes em comerciais não é novidade. Muitas marcas recorrem a vozes semelhantes de artistas famosos para criar associação emocional com o público sem pagar os altos custos de licenciamento. No entanto, com legislações mais rígidas, como a Elvis Act, essa prática pode se tornar um risco financeiro significativo.
Empresas agora precisam calcular não apenas o custo de produção de uma campanha, mas também o risco de processos milionários. Isso pode levar a uma mudança de estratégia, privilegiando parcerias oficiais com artistas ou suas heranças, o que, por sua vez, aumenta o valor de contratos de licenciamento.
Para investidores, o caso é um alerta. A reputação corporativa é um ativo financeiro e pode ser rapidamente afetada por disputas legais envolvendo direitos de artistas. A Coca-Cola, que já investe em música e cultura por meio de parcerias com gravadoras e artistas emergentes, talvez tenha que rever sua política de marketing para evitar novos litígios.
Além disso, o processo abre espaço para discussões sobre como legislações estaduais podem influenciar práticas globais. Se o Tennessee conseguiu criar uma lei que protege artistas de forma tão abrangente, outros estados e países podem seguir o mesmo caminho, aumentando os custos regulatórios para empresas multinacionais.
O caso Johnny Cash vs. Coca-Cola mostra que a música não é apenas arte, mas também patrimônio econômico. A voz de um artista, mesmo após sua morte, continua sendo um ativo valioso, capaz de gerar receitas e, ao mesmo tempo, litígios. Para marcas, isso significa que cada nota musical usada em uma campanha pode carregar consigo um peso jurídico e financeiro.
Seja para fãs, advogados ou investidores, o recado é claro: no mundo dos negócios, até a voz de um artista pode valer milhões — e custar caro para quem tentar usá-la sem permissão.
























