Se você achava que a Tidal estava apenas curtindo um hiato criativo, pode tirar os fones do ouvido e prestar atenção: a plataforma de streaming musical acaba de lançar uma funcionalidade que pode mudar o jogo para artistas independentes — e, quem sabe, para os investidores que acompanham o setor com lupa e planilha.
A novidade atende pelo nome de Tidal Upload, e permite que músicos DIY (do-it-yourself, ou faça-você-mesmo) publiquem suas faixas diretamente na plataforma, sem precisar de distribuidoras ou intermediários. Sim, é como se o SoundCloud tivesse ganhado um irmão mais elegante, com pedigree de Jay-Z e DNA de fintech.
Mas antes de sair correndo para subir aquele hit gravado no quarto, vale entender os detalhes. Por enquanto, o recurso está disponível apenas para artistas nos Estados Unidos, com um limite generoso de até 200 faixas por usuário. E aqui vem o primeiro ponto que interessa ao mercado financeiro: as músicas publicadas não geram royalties. Isso mesmo, zero centavos por stream.
A ideia, ao menos por ora, é oferecer visibilidade e oportunidades promocionais, não remuneração direta.
E é aí que entra o tempero estratégico. A Tidal criou um programa de destaque semanal, onde editores escolhem faixas para aparecerem em playlists e na página inicial do app. Os artistas selecionados recebem US$ 100 por dia em sua conta Cash App — outro produto da Block, empresa-mãe da Tidal. Além disso, foi lançado o concurso Upload Headliners, que premiará dez artistas com US$ 100 mil cada. Nada mal para quem está começando e sonha com um empurrão financeiro.
Do ponto de vista de negócios, essa jogada é um sinal claro de que a Tidal está tentando se reposicionar. Após um período de silêncio estratégico — a plataforma nem foi mencionada na última carta aos acionistas da Block — a empresa parece querer mostrar que ainda tem fôlego e ideias. E ao mirar nos artistas independentes, ela se aproxima de um público engajado, criativo e, principalmente, em busca de alternativas às grandes gravadoras.
Claro que nem tudo são notas harmônicas a Tidal terá que lidar com desafios como o controle de conteúdo protegido por direitos autorais e o tsunami de faixas geradas por inteligência artificial. A concorrente Deezer, por exemplo, revelou que recebe cerca de 50 mil músicas geradas por IA por dia. Sem intermediários, a Tidal pode enfrentar uma enxurrada ainda maior — e precisará de boas políticas para não transformar a plataforma em um festival de plágios e robôs cantores.
Para os investidores, o movimento é intrigante. A Block havia anunciado em 2024 que reduziria os investimentos na Tidal, mas essa nova funcionalidade — com integração ao Cash App e prêmios generosos — pode indicar uma mudança de planos. Se a aposta nos artistas independentes der certo, a Tidal pode se tornar uma referência em descoberta musical e engajamento de criadores, o que pode se traduzir em novos modelos de receita e valorização da marca.
Em resumo, a Tidal está tentando afinar sua estratégia com uma melodia ousada. E quem acompanha o mercado financeiro deve prestar atenção: quando uma plataforma se reinventa, os números podem dançar — e o ritmo pode ser surpreendente.
























